quinta-feira, 24 de março de 2011

O vento

   O único da casa que enxerga o vento é o cachorrro.
   Detên-se á porta da cozinha, rosnando para o pátio vantando, cheias de latas inquietas e papéis decididamente malucos.
   E nos olhos fixos e rancorosos vê-se o desvario do vento, a incurabilidade do vento, os seus cabelos em corrupio, os seus braços que parecem mil, os seus trapos flutuantes de espantalçho, toda aquela agitação sem causa e que ainda é menos instavel, no entretanto, que a terrivel desordem da sua cabeça: pois o vento nunca pode assentar as idéias.       
(Mário Quintana. Prosa & Verso)

Nenhum comentário:

Postar um comentário