quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Obras

Ponte dos Remédios está com prazo
de validade vencido, dizem especialistas

Inspeção feita por sindicato em 2005 já apontava problemas complexos na estrutura
Érica Saboya, do R7
 
Ponte dos Remédios

 
Vistorias mais frequentes na estrutura poderiam ter evitado o desabamento que aconteceu na ponte dos Remédios na madrugada da última terça-feira (22), avaliam especialistas ouvidos pelo R7. Uma inspeção realizada entre os anos de 2005 e 2006 pelo Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia) apontou problemas de manutenção na ponte, que foi construída em 1969 e passou pela última reforma em 1997, quando uma rachadura provocou risco de desabamento.

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A inspeção feita pelo sindicato constatou problemas como junta de pavimentação danificada, armaduras expostas e buracos no canteiro central que ofereciam risco aos usuários. A ponte dos Remédios, que passa sobre a marginal Tietê, na zona oeste de São Paulo, foi classificada como uma das 24 estruturas (entre pontes e viadutos) com problemas complexos. No estudo, foram analisados todos os 240 viadutos e pontes de São Paulo e o sindicato concluiu que 10% das obras analisadas tinham sérios problemas. De acordo com os organizadores do estudo, “ela [a ponte dos Remédios] tinha uma das situações mais graves”.

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Para o arquiteto do CREA (Conselho de Engenharia e Arquitetura), Emílio Carlos Martims, a vistoria feita pelo conselho após o desabamento desta terça-feira indicou que os problemas da ponte não são na estrutura por onde os carros trafegam, mas na marquise. Ele disse ter observado alguns trechos do passeio que “têm sinais claros” de que estão cedendo.
- Fizemos uma inspeção sem instrumentos, mas dá para ver no fim da marquise um trecho de 5 cm que está cedendo. O passeio está bem deteriorado, com sinais de infiltração. Olhando por baixo, dá para ver várias borras de água, o que pode comprometer a estrutura.

Falta de manutenção

O CREA vai avaliar se o projeto da obra de reparos feita em 1997 apresentava problemas técnicos que possam ter ocasionado o desabamento de agora. Martims, porém, disse ser mais provável que o problema seja mesmo de falta de manutenção periódica.
- Nenhuma obra de engenharia resiste à falta de manutenção. Essa queda poderia ser prevista? Claro. Qualquer obra feita há muito tempo dá sinais de desgaste, de que pode cair.

O engenheiro civil especializado em contenção de estruturas José da Silva Moreira partilha da mesma opinião de Martims. Para ele, a obra de 1997 foi um trabalho de engenharia muito benfeito, que deixou a ponte “0 km”. Mas a queda de agora poderia ter sido evitada se houvesse inspeções periódicas, pelo menos mensalmente.
- A engenharia brasileira é muito boa nesse setor de pontes e viadutos, senão teríamos problemas muito mais frequentes.
No resultado da inspeção feita pelo Sinaenco, entre 2005 e 2006, os técnicos responsáveis sugerem solução para o problema das pontes e viadutos. De acordo com o coordenador das vistorias, Gilberto Giuzio, uma lei federal deveria instituir a obrigatoriedade de fazer reformas permanentes, pelo menos a cada dois anos, nas construções do país.
- Não adianta fazer uma obra benfeita e depois abandonar. Não tenho dúvida de que a prefeitura investe em recuperação, mas elas têm que ser permanentes. A cada dois anos, pelo menos, em cada obra.

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